Certa vez, um tradicional e elegante príncipe, arrogante de sua realeza,
foi fazer uma caçada em lugar distante e montanhoso.
A certa altura de seu longo e tenebroso caminho, viu um desgastado
velho eremita, sentado frente a uma gruta, atento a uma caveira que tinha
em suas mãos.
Indignado porque o velho eremita não lhe prestou a menor atenção
– nem mesmo levantou os olhos – muito menos a devida reverência
à pomposa comitiva.
Com toda sua arrogância, o erudito Príncipe aproximou-se do velho
solitário e disse-lhe:
- Velho rude, desengonçado e zombeteiro, entre para a gruta.
Levanta-te quando por ti passa o teu notável Senhor!
Porém, antes que cumpra as minhas determinações, responda-me
o que podes ver de tão interessante nessa tão pobre e inútil caveira,
que chegas até te abstrair quando da passagem de um nobre Príncipe de
tantos fidalgos?
O eremita, com toda serenidade, erguendo para ele os olhos mansos,
respondeu em voz singularmente clara e sonora:
- Perdoa-me senhor.
Eu estava procurando descobrir se esta caveira tinha numa época pertencido
a um mendigo ou a um nobre príncipe, pois, por mais que analise, não
consigo distinguir de quem seja.
Nestes ossos nada há que diga se a carne e a pele que sua época
revestiu, repousou em travesseiros de plumas ou de pedras brutas colhidas
nas duras asperezas das estradas.
No entanto, eu não saberia dizer se deveria levantar-me ou conservar-me
sentado diante daquele que, em vida, foi o honroso dono deste crânio anônimo.
O Príncipe, cabisbaixo, prosseguiu o seu caminho.
A caçada naquele dia, porém, não teve qualquer encanto, vez que a lição
da caveira abatera o seu orgulho, fazendo-o refletir profundamente que
no hemisfério terrestre nunca devemos pisar na singeleza de ninguém.
Autor Desconhecido
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